terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cantareira: 180 Morumbis desmatados.

Cantareira: 180 Morumbis desmatados.

Em um dos pontos mais altos da Serra da Cantareira, em Caieiras, o grupo católico Arautos do Evangelho construiu uma espécie de paraíso na Terra. Quaresmeiras e manacás moldam uma clareira de concreto de 12 mil metros quadrados, base de sustentação para prédios, casas, quadra esportiva e estacionamentos do empreendimento. O "castelo" - apelido dado pelos moradores da região ao complexo - chama a atenção pelas dimensões avantajadas e suspeitas de irregularidades, mas a obra é apenas uma entre muitas que têm contribuído para a devastação da área. Nos últimos três anos, a Serra da Cantareira, uma das maiores florestas urbanas do mundo, perdeu 1,4 milhão de metros quadrados de área verde - o equivalente a 180 campos de futebol iguais aos do Morumbi.

Estudo inédito do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Fundação SOS Mata Atlântica detectou 16 polígonos de desmatamento no entorno do Parque Estadual da Serra da Cantareira, área de preservação. A pesquisa não só revela aceleração do desmatamento, estagnado entre 2000 e 2005, como mostra uma mudança no processo de devastação. "Nos anos 90, a causa principal era a profusão de lotes clandestinos. Hoje, quem rouba o verde é a ocupação regular", diz Márcia Hirota, da SOS Mata Atlântica.

Na Estrada de Santa Inês, altura do km 10, entre Caieiras e São Paulo, placas de "vende-se" e "proibido construir" disputam o mesmo espaço. É um reflexo do avanço da urbanização na serra que tanto preocupa os ambientalistas. Em três anos, foram expedidos 865 alvarás para casas e condomínios na bacia do Juqueri-Cantareira, que compreende Mairiporã, Caieiras, Franco da Rocha e São Paulo. De todos, Mairiporã é o que tem maior movimento imobiliário. Nos últimos dez anos, a área urbana do município cresceu 41,5%. "A ocupação danificou mais de 12% de mata atlântica", diz Pilar Cunha, do Instituto Socioambiental (ISA).

A maioria das casas e condomínios erguidos na Serra da Cantareira está dentro da lei. Licenças ambientais são concedidas mediante laudos de flora e fauna. As análises determinam o quanto pode ser construído, o total a ser mantido intacto e o reflorestamento posterior à obra. Há dois problemas, segundo especialistas. O primeiro é o cumprimento pelos proprietários de contrapartidas ambientais impostas pelo governo - com a fiscalização precária, ele dificilmente ocorre. Só na Promotoria de Caieiras, há 16 inquéritos de irregularidades em condomínio.

O segundo é mais complexo: as leis brasileiras sobre ocupação de áreas verdes estão ultrapassadas, datam de 1977 e não levam em conta a atual situação ambiental. Quem arca com o prejuízo é a população. A serra é fundamental ao abastecimento de água da Grande São Paulo, tem enorme influência na regulação climática e ameniza a poluição.

Serra da Cantareira - SP

Serra da Cantareira

A Serra da Cantareira abraça a Cidade de São Paulo, e proporciona aos amantes da natureza uma região onde podemos ter contato com um dos ecossistemas mais fascinantes do planeta: a mata atlântica. Tudo isso à menos de 20 km do centro de uma das maiores cidades do mundo: A Cidade de São Paulo. Acredite, a capital paulista ainda guarda incríveis surpresas embaixo das verdes copas das árvores...

O Parque Estadual da Serra da Cantareira possui 7.916,52 hectares, o equivalente a quase 8.000 campos de futebol do tamanho do Morumbi (79 milhões de metros quadrados). Conta com quatro núcleos de visitação para quem quiser descobrir o lado verde da capital paulista: Pedra Grande, Engordador, Águas Claras e Cabuçu.

Antigamente, nos séculos XVI e XVII, a região era cortada pelos tropeiros que faziam o comércio entre São Paulo e outras regiões do país, principalmente Minas Gerais e Goiás. Naquela época era costume armazenar água em jarros chamados cântaros, que eram colocados em prateleiras chamadas de "cantareiras". Por isso a serra recebeu o nome de “Serra da Cantareira”.

Com a colonização da região grande parte da floresta nativa foi derrubada para dar lugar a fazendas de café, erva mate e cana de açúcar, que ocuparam por muito tempo o lugar da mata nativa.

No século XIX, com o grande crescimento populacional, a cidade de São Paulo foi afetada por graves problemas com relação ao abastecimento de água. Em 1864 estudos desenvolvidos concluíram que a solução viria da utilização do Ribeirão da Pedra Branca, na região da Serra da Cantareira, por sua proximidade com a cidade e pela excelente qualidade de suas águas.

No final do século XIX, em 1890 o governo da província de São Paulo desapropriou a região da Serra da Cantareira a fim de recuperar a mata e manter preservadas os mananciais de água para garantir o abastecimento da cidade através das represas Engordador, Barrocada e Cabuçu. Assim em 1894 foi iniciada a construção da Casa da Bomba no local onde é hoje o Núcleo Engordador para auxiliar na distribuição de água para São Paulo e em 1907 foram concluídas as obras do Reservatório do Engordador. O sistema de abastecimento iniciou-se em 1909 e fornecia água para abasteceu quase 80% da capital paulista. Após uma explosão a Casa da Bomba foi desativada em 1949.

Após as desapropriações a natureza gradativamente retomou seu lugar e hoje pode-se considerar que a mata já se encontra novamente em seu estado original. A região da Serra da Cantareira foi instituída como Reserva Florestal em 1963 através do Decreto 41.626 e posteriormente em 1986 grande parte da região foi transformada no Parque Estadual da Serra da Cantareira, Unidade de Conservação que hoje garante a preservação da rica biodiversidade que o local abriga, atualmente um dos mais expressivos remanescentes de mata atlântica que no passado cobria as cadeias montanhosas desde o Nordeste até o Rio Grande do Sul.

Em 1994 a região da Serra da Cantareira foi reconhecida pela UNESCO como parte da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo.


'' A maior floresta urbana do mundo "